segunda-feira, janeiro 15, 2007

Alguns segundos de onisciência

Estava eu conversando com nosso bom amigo Metralha sobre um assunto qualquer quando, diante de alguma afirmação dele, respondi: "Sei disso."

"Eu sei que você sabe disso", foi a resposta dele.

"Eu sei que você sabe que eu sei", disse eu em seguida.

"E eu sei que você sabe que..."

Não prosseguimos indefinidamente nessa demonstração de nossos abundantes conhecimentos. Mas a idéia que me ocorreu em seguida é que poderíamos, de fato, ter feito isso. O simples deenvolvimento "ad infinitum" dessa cadeia acabaria por revelar que cada um de nós sabia um número infinito de fatos. E, visto que o número de fatos a serem conhecidos não pode ser maior que isso, segue-se daí que eu e o Metralha somos oniscientes.

Expus-lhe meu argumento, mas não consegui convencê-lo plenamente. Estávamos iniciando a discussão do assunto quando, para nossa felicidade, surgiu no recinto o ser mais violento que já contemplei com estes olhos que a terra há de comer. Ele mesmo: o nosso amigo Felipe Benette, vulgo Benettão Violento. Tivemos então a excelente idéia de deixar que ele decidisse sobre a validade do argumento.

Poucos segundos depois, no entanto, fui pela milésima vez forçado a reconhecer a nulidade do meu pobre intelecto em comparação com o dele. Preparando-me para expor o argumento que, no meu entender, demonstrava cabalmente minha onisciência, eu perguntei-lhe: "Eu e o Metralha somos oniscientes?"

E sua resposta foi: "Acredito que não, já que você precisa perguntar isso a mim."

E assim, em mais uma demonstração de sua violenta perspicácia, o Benette refutou minha tese sem sequer ter precisado ouvi-la. Sem outra opção, voltei à minha costumeira humildade de criatura não-onisciente. Mas tudo bem. Contento-me com a sensação de onisciência que tive durante aqueles poucos segundos.

6 Comments:

Blogger Felipe Benette said...

Uma coisa eu preciso dizer: há controvérsias.

11:11 PM  
Blogger Daniel Nérso said...

Mais uma demonstração de sabedoria e uso das palavras do seu(nosso e de todo mundo) Benettão!
Ele poderia te convencer usando 1001 argumentos, ou então apenas UM, mas não... preferiu te dar a chave para que vc sozinho chegasse à resposta.
Benettão... uma força, uma intelectualidade... um guia reluzente para tempos obscuros...

2:16 AM  
Anonymous Anônimo said...

De fato foi uma sensação única a que me foi proporcionada durante alguns segundos enquanto quase convencido de minha onisciencia. Mas nada se compara a presença do Benetão Violento. Presença essa acompanhada de palavras e atenção. Óh! Como fui feliz nakele momento (apesar de não-onisciente).

9:16 AM  
Anonymous Anônimo said...

Isso me pareceu uma conversa de bar.

1:08 PM  
Anonymous Anônimo said...

ahahaaaahahahaha... que demais!!

6:19 PM  
Anonymous Anônimo said...

Seria, então, Benettão o verdadeiro onisciente, Nérso?

12:33 AM  

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